Raiva mobilizadora

BRUNA SANTORO MILANI | CRP 06/126178
Psicóloga (PUC-SP)

Este texto servirá, sobretudo para desmitificar alguns pensamentos que temos como verdade absoluta. Já ouviu aquela frase máxima "O que move o mundo é o amor!" E se eu te disser que na realidade, o que move o mundo é a raiva? Pode parecer estranho ler isso de imediato, mas tem explicação. Primeiro de tudo, não leve a expressão "a raiva move o mundo" com uma conotação pessimista diante da condição humana.

Talvez seja exagero dizer que essa emoção seja a única a mobilizar o mundo. O fato é que a raiva não é tão ruim como fomos levados a acreditar. Lembre-se sempre disso: A raiva nos tira da posição de conforto. Nesse momento que entra a Psicologia Positiva, pois toda mobilidade envolve uma direção que podem nos direcionar a dois caminhos: destrutivo ou construtivo – como dito pela Lilian Graziano (psicóloga e doutora em Psicologia pela USP) "Observe que negativa, nesse caso, é muito mais a direção pela qual nos deixamos conduzir do que a emoção que sentimos.".
Acontece que a raiva conhecida por nós se refere a brigas inúteis, agressões, pessoas que prejudicam a si mesma por conta de suas frustações, até mais do que os outros - Esses seriam os caminhos destrutivos.
Já o caminho construtivo da raiva é outro. Em primeiro lugar ele nos tira do lugar. Ressalto aqui que não me refiro a comportamentos de vingança, já que isso fugiria do aspecto construtivo e desviaria do trajeto positivo. De acordo com Graziano, o uso do construtivo por meio da raiva torna-se realmente construtivo quando nos leva a um desenvolvimento e reflexão pessoal. Exemplo prático disso é quando usamos tal emoção para alcançar uma meta: "Me rebaixou de cargo? Pois ele vai ver que vou provar que sou capaz de muito mais, através dos meus estudos!". Além disso, a raiva também serve para por em prova o nosso autocontrole. "E a cada vez que conseguimos modular nossa resposta a ela, esforçando-nos a tomar um caminho construtivo diante dessa emoção, é como se colocássemos mais um tijolinho na nossa capacidade de nos controlar-mos diante dos impulsos.". (GRAZIANO)
Enfim, pode parecer meio paradoxo, mas é através da raiva que nos tornamos melhor, que de fato, nada mais é do que um exemplo evidente da complexidade envolvendo as emoções, inclusive envolvendo também as limitações que os caracteriza como emoções negativas e positivas.
Então, se você teve um dia ruim, não se desespere, aproveite essa raiva e apropria-se se tornando mais produtivo (a).

"Uma boa raiva produz um excelente discurso."
Ralph Waldo Emerson



Fonte: http://avpgraficaejornal.com.br/layout/index.php/2020/02/24/raiva-mobilizadora/