Autoconhecimento

BRUNA SANTORO MILANI | CRP 06/126178
Psicóloga (PUC-SP)

Desde que o mundo é mundo vivemos em incessante busca pelo autoconhecimento. Acontece que é um desejo contraditório, pois ninguém inspira conhecer a pior versão de si mesmo.

Sempre que alguém chega para a primeira sessão de terapia, fica aflito e inseguro, pois dentro de si ainda existe o medo latente de se conhecer de verdade (e quem sabe, esse seja o medo real que se encontra na sombra da coletividade humana, já que, segundo a mitologia cristã, nossos primeiros descendentes foram expulsos do paraíso quando tiveram a consciência do bem e do mal).
Existe um grupo de pessoas que acredita que o processo de autoconhecimento através da terapia é perca de tempo e para pessoas carentes. Há também, quem acredita ser autossuficiente o bastante para anular a possibilidade terapêutica. Vale lembrar que a percepção que temos de nós mesmos vem através do externo, e se não tiver o outro, como posso falar quem sou eu?
Como posso me observar intimamente sem o espelho de nós mesmo refletido no outro?
É preciso clareza para reconhecer que não somos nada além de seres humanos constituídos psicologicamente de dualidades: de bom e mau, de bonito e feito, de traído e traidor. Em suma, a terapia busca equilibrar essas polaridades para um caminho de crescimento e de amadurecimento.
Ninguém se conhece verdadeiramente por uma simples razão: A sua biografia não é algo fechada. O que quero dizer com isso, é que não existe um defeito ou uma qualidade dominante, ninguém é unicamente um conjunto de características, pois estamos em constante mudança. Somos um camaleão da moral.
A pessoa que continua a todo custo buscando se conhecer, terminará frustrado, visto que ninguém conhece a TOTALIDADE de sua história – ainda mais aquela que não viveu ainda.
Não somos um retrato ou uma pintura, somos uma AÇÃO e você só entenderá quem você é, quando perceber que você é uma CONSCIÊNCIA.
O grande desafio da elaboração de autoconhecimento, é reconhecer dentro de si as constantes mudanças internas, é aceitar sair da zona de conforto e das armadilhas inconscientes, e principalmente, é saber que nem sempre essa descoberta será fácil e tranquila.
A verdadeira conquista se encontra após vencer o medo de ampliar o conhecimento que temos de si mesmos e reconhecer o risco de se surpreender.
Se estiver pensando em iniciar a terapia, tenha em mente que talvez conteúdos não desejáveis surjam, mas saiba também, que a todo o momento, o profissional que se preparou boa parte de sua vida para esta carreira, estará ao seu lado dando suporte, pois acredita que esse processo determinará as melhorias de seu caminho.
Encerro aqui com uma frase do psiquiatra e precursor da Psicologia Analítica, Carl Gustav Jung que sintetiza com maestria sobre a coragem de enxergar a si mesmo:

"Sua visão se tornará clara somente quando você olhar para o seu próprio coração. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta".



Fonte: http://avpgraficaejornal.com.br/layout/index.php/2019/08/19/autoconhecimento/