Grupos estão à espera de salvo-condutos, mas negociações são demoradas e tensas
Roberto Dutra
Cerca de 15 dias atrás, devido ao repentino avanço da pandemia
do Coronavírus Covid-19, os motociclistas que participavam da Expedição Atacama
Mototour encontraram muitas dificuldades para retornar ao Brasil. Depois de
serem impedidos de seguir viagem na Argentina, foram obrigados a retornar para
o Brasil e, mesmo nessa volta, enfrentaram várias restrições à circulação.
Felizmente conseguiram, ainda que para isso tenha sido preciso mudar o trajeto
da viagem e até mesmo interromper a programação original.
Mas o problema não
acabou. Agora, há grupos de motociclistas e viajantes individuais de moto e de
carro com sérios problemas para retornar ao Brasil. Eles estão no Brasil e no
Chile, e têm encontrado obstáculos ainda maiores para retornar ao Brasil: as
restrições à circulação ficaram ainda mais severas.
Estas pessoas têm se
comunicado por telefone e whatsapp umas com as outras, e também com familiares
e amigos que estão no Brasil, que têm dado o suporte possível. E, inclusive,
criaram um grupo chamado “Moto Resgate”, para trocar informações
rapidamente – capitaneado pelo motociclista e instrutor de voo livre Dualcei
Silva, que está no Brasil (mora em Balneário Camboriú) articulando os contatos
possíveis.
Na Argentina, há
informações de 18 pessoas que, em grupos ou separadamente, estão espalhadas
pelas cidades de Tilcara, General Conesa, Puerto Madryn, Esquel, Macachin, San
Rafael, Rio Gallegos, Pedro Luro e Tiera del Fuego. No Chile, estão 20
viajantes, em lugares como Puerto Rio Tranquilo, Chile Chico, Puerto Natales,
San Pedro de Atacama e Huincara.
Na Argentina, o
problema é que a legislação atual obriga qualquer brasileiro a cumprir
quarentena no país de 14 dias, a contar a data de entrada. Porém, mesmo após a
quarentena, estas pessoas não estão conseguindo sair porque cada província
(estado argentino) está agindo de uma forma, sem um padrão. Então, há lugares
com mais restrições e outros, raros, com menos restrições – o governo federal
argentino deu autonomia a cada uma delas, o que resulta nesta falta de padrão.
Sem conseguir se
deslocar para retornar ao Brasil, esses brasileiros correm o risco de ficar sem
ter onde se hospedar e até mesmo de ficar sem dinheiro para pagar a hospedagem
e a alimentação básica. Há contatos sendo feitos com o consulado e a com a
embaixada brasileiros na Argentina, e novidades são esperadas nos próximos
dias. Na tarde desta sexta-feira, começaram ser confeccionados os
“salvo-condutos” para os viajantes brasileiros que estão na
Argentina.
No Chile está mais complicado
Os viajantes que
estão no Chile têm um problema maior: como o país não faz fronteira com o
Brasil, eles precisam, obrigatoriamente, atravessar a Argentina para chegar
aqui. A Argentina é o caminho mais óbvio e eis a primeira dificuldade: as
fronteiras do país “hermano” estão fechadas. Então, os brasileiros no
Chile não conseguem sequer entrar na Argentina para, então, tentar chegar ao
Brasil.
Para eles, a melhor
solução no momento deve ser, mesmo, guardar as motos ou carros em um lugar
seguro, procurar a imigração e retornar de avião. E, mais à frente, quando a
situação retornar a um padrão mais próximo do normal, voltar ao Chile e
resgatar suas motos e carros.
Ontem circularam
rumores de que a Argentina poderia reabrir suas fronteiras no próximo dia 31 de
março. Mas, por enquanto, não há absolutamente nada que indique essa
possibilidade. Abaixo, algumas histórias desses viajantes que estão aguardando
o retorno para o Brasil:
Bateram na trave
Marcio Volpi,
autônomo de 43 anos, saiu do Brasil no dia 2 de janeiro e ia fazer sozinho o
trajeto Carretera Austral / Ushuaia, mas acabou tendo a companhia de do
aposentado Ederaldo Sabio, de 53 anos. Entraram no Chile por Paso Cristo antes
do crescimento da pandemia. Foram em direção a Santiago e desceram até Puerto
Monte. Por volta do dia 13 de março chegaram a Baia Murta, antes de Sero
Castillo, e no camping forma informados que estava tudo fechado. Mas seguiram
viagem até Puerto Rio Tranquilo, onde encontraram um grupo de argentinos que
informou que tudo estava fechado. Como já estavam perto do objetivo da viagem,
seguiram em frente, mas logo encontraram barreiras policiais. Em Coihaique,
foram informados de que aquele era o último dia para sair do Chile. Abortaram o
resto da viagem, seguiram para Chile Chico por 480km de rípio e conseguiram
chegar à fronteira, mas ela já estava fechada. Ficaram em Chile Chico e lá
estão até hoje (lives podem ser vistas no canal youtube.com/degarupa).
Na “vanhome” caseira
Josilmar Paulo
Kovalski, eletricista de 31 anos, saiu em 13 de fevereiro da cidade de Porto
União (SC) rumo ao Ushuaia em uma “vanhome” montada por ele mesmo.
Chegou no Ushuaia em 10 de março e cinco dias depois ficou sabendo do
fechamento das fronteiras. Deixou um amigo que estava com ele na cidade de
Punta Arena e, desde então, está retido no Chile. Acabou sendo acolhido pelo
casal Luis Marcondes e Silvia (ele, chileno; ela, brasileira), e está hospedado
na casa deles até agora.
Perrengue em grupo
Luiz Fernando Prata,
Fernando Fachini, Cláudio Luís Corniane (pai) e Elton Dosso Corniane (filho)
saíram de Urupês, no interior de São Paulo, e entraram na Argentina entre os
dias 8 e 9 de março. Seguiram sentido Paso de Los Libres dentro de um
cronograma próprio com o objetivo de fazer a Carretera Austral e chegar ao
Ushuaia. Mas tiveram que interromper a viagem ao serem informados de que estava
tudo fechado. Rodaram até Puerto Rio Tranquilo, onde estão há nove dias à
espera de uma saída.
Fonte: http://avpgraficaejornal.com.br/layout/index.php/2020/03/30/motociclistas-continuam-encontrando-problemas-para-sair-da-argentina-e-do-chile/