Sobre a Morte

BRUNA SANTORO MILANI | CRP 06/126178
Psicóloga (PUC-SP)

No dia 02 de Novembro foi dia de finado e essa data sempre abre brecha para refletirmos sobre a realidade da morte.

Existem muitos pesquisadores cujos estudos referem-se sobre a morte na atualidade, essas pesquisas não se referem apenas no universo da Psicologia, mas também na Filosofia, Teologia entre tantas outras abordagens. O fato é que cada um com seus questionamentos, cu-riosidade, ideologia, todos caminham em uma mesma direção: A de que a morte chegará para todos. Apesar do ser humano em seu íntimo almejar o poder de transcender e ir além desse fenômeno natural, todos sabemos que o nosso corpo é uma espécie natural que possui falhas, e que essas falhas vão aumentando gra-dualmente com o passar dos anos.
Desde pequenos aprendemos e comprovamos que tudo que existe tem um começo, meio e fim, mas desejamos, de modo bem ilusório, escapar desse fenômeno natural que é o de um dia morrer. Possuímos dois aspectos contraditórios: O primeiro é o desejo da ação, essa que nos move para a criação da história e cultura. O segundo é o desespero ao notar nossa finitude.
Porém, como seria nosso emocional se fossemos eternos?
Existem reflexões da Simone de Beauvoir a esse respeito que faz um ensaio de como seria nossa vida se fossemos imortais. Para ela, se existisse realmente a possibilidade do "não morrer" abriríamos espaço para outros tipos de vazios. E então, o desejo de ser eterno se tornaria um pesadelo (para não falar desespero), pois além de fazer com que a gente assista outros fins, viver eternamente poderia nos deixar exaustos psicologicamente. Acrescento aqui que a ideia da vida eterna também causaria outras problemáticas em nossa vida que jamais imaginaríamos, já que não somos eternos.
A questão da morte vai muito além de querer ser infinito e de querer que o outro também seja infinito. O que essencialmente buscamos nessa "vida eterna" é juventude eterna. Ninguém quer ser um idoso eterno. Por quê? Também é uma questão a ser refletida por nós, mas adianto aqui algumas percepções: Temos uma ideia pré-estabelecida em nosso inconsciente coletivo sobre o conceito de velho (tema esse que poderemos discorrer em futuros textos), além de que, a palavra "velho" estar diretamente ligada a palavra "fim" e a palavra "fim" é o não aceito.
Não posso deixar de mencionar aqui que a ideia da morte não é a mesma conforme as etapas de nosso desenvolvimento. As representações da morte mudam de acordo com a idade, bem como dos fatores culturais de cada sociedade. Além é claro, com os avanços da medicina a compreensão sobre a morte também vai se modificando ao longo da nossa história.
O assunto morte ainda é um tabu em nossa cultura. Pouco se fala sobre esse assunto e quando é mencionado causa desconforto. Assim, frente às necessidades da modernidade tendemos a fugir do sofrimento causado pelo luto, e somos estimulados a seguir em frente, sem nos darmos conta de como estamos vivendo. Você já parou para pensar sobre as implicações de um luto negligenciado? Este comportamento de negligenciar nossas emoções pode em alto escala desencadear doenças psicossomáticas, devido à má elaboração da fase natural do luto. A psicologia vem defendendo o acolhimento da dor e auxiliando na resignificação da experiência da perda. Por isso, conversar com alguém de confiança sobre nossos medos e sobre os lutos existentes em nossos corações é essencialmente importante, já que é algo que existe na vida de todos!
Não é a toa que Buda dizia: "A raiz do sofrimento é o apego".

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Fonte: http://avpgraficaejornal.com.br/layout/index.php/2020/12/03/sobre-a-morte/